TECH FRIENDLY: Uma Soft Skill valiosa para sua Carreira Profissional

Você já foi responsável por um Tamagotchi? Já adotou um aspirador autônomo como pet? Procura ser educado com sua assistente pessoal (Siri, Alexa e companhia)? Se suas respostas foram predominantemente NÃO para estas perguntas, fique tranquilo. Você ainda terá, talvez, a oportunidade de ser assistido por um robô cuidador em sua idade mais avançada. Porém, precisa fazer por merecer. Mas não é exatamente sobre esta amizade que quero evidenciar aqui, embora elas sirvam de bons indícios comportamentais. Vamos falar de como ser amigável às novas tecnologias pode contribuir com o desenvolvimento e evolução da carreira profissional.

Há quem seja apaixonado por tecnologia, assim como existem pessoas com aversão ao uso extremo da tecnologia e a grande dependência de sistemas, dispositivos e eletrônicos. Encontramos por aí em número crescente as novas gerações, Z e Alpha (nascidos entre 1997 e 2012 e de 2013 em diante, respectivamente), que já nasceram em um mundo muito mais digital e com maior abundância tecnológica e são chamados de nativos digitais.

Até aí tudo bem e normal no curso natural da história. O porém, reside na história que será vivenciada e contada daqui em diante. Pois pelo simples fato de haver um número crescente de novos profissionais no mercado atuando com maior intimidade e “traquejo” tecnológico, isto faz com quem não segue o mesmo ritmo vá ficando para trás gradativamente. E cada novo passo e novos instrumentos disponíveis no mercado, esta distância vai se ampliando. Isto vale para profissionais e para empresas.

O artigo desta semana é sobre como podemos nos tornar mais produtivos, eficientes e ágeis e ter nossas capacidades amplificadas com o uso da tecnologia, assim como resistir ou negligenciar o desenvolvimento de novas habilidades e processos pode ser fatal para alguns profissionais ao longo do tempo. Mas de modo algum quero defender aqui que tudo precisa ser substituído pela versão mais tecnológica ou ser obrigatoriamente digitalizado. Pelo contrário, há muito espaço e valor para a atividades humanizadas, tradicionais e não digitalizadas. Porém, acredito que seja um tema para ser debatido e ponderado sem poesias e romantismos. Devemos buscar a clareza para melhor compreender como nos mantermos mais competitivos e valiosos em nosso mercado de atuação. E novamente; isto se aplica para a gestão de carreiras profissionais assim como se aplica para a gestão e modelos de negócios.

Tech Friendly é um termo que se refere a indivíduos, empresas ou ambientes que possuem uma postura amigável em relação à tecnologia e estão dispostos a abraçar e adotar novas ferramentas, soluções e abordagens tecnológicas em suas atividades e processos. Ser Tech Friendly é reconhecer a importância da tecnologia como um impulsionador estratégico para o crescimento e a competitividade em diversos setores e profissões. É estar disposto a aprender e adquirir habilidades relacionadas à tecnologia, bem como a se adaptar e acompanhar as mudanças constantes do ambiente digital.

Ressalto que o entendimento de tecnologia deve ser mais amplo do que suas manifestações computacionais, de sistemas, aplicativos e dispositivos móveis. A tecnologia pode ser definida mais amplamente como um produto da ciência que envolve instrumentos, métodos ou conjunto de técnicas que visam tudo o que auxiliam a reduzir esforços físicos e cognitivos, proporcionando maior conforto, praticidade e eficiência. E quando aplicadas oferecem valor na resolução de problemas.

A palavra tecnologia tem origem no grego “tekhne” que significa “técnica, arte, ofício” juntamente com o sufixo “logia“ que significa “estudo”. E marcou grandes evoluções a cada salto tecnológico ao longo da história da humanidade.

As tecnologias primitivas ou clássicas envolvem a descoberta do fogo, a invenção da roda, a escrita e muitas outras. As tecnologias medievais englobam invenções como a prensa móvel, tecnologias militares com a criação de armas ou as tecnologias das grandes navegações que permitiram a expansão marítima. As invenções tecnológicas da Revolução Industrial (século XVIII) provocaram profundas transformações no processo produtivo. A partir do século XX, além da robotização e automação que impulsionaram a produtividade industrial, destacaram-se as tecnologias da informação e comunicação por meio da evolução das telecomunicações, utilização dos computadores, desenvolvimento da Internet e também das tecnologias avançadas, que englobam a utilização de Energia Nuclear, Nanotecnologia, Biotecnologia, etc. Atualmente, a alta tecnologia tem oferecido insumos para novas revolução, com elas um mundo de possibilidade ainda está se desenhando com base em plataformas de Inteligências Artificias, Aprendizados de Máquinas e respostas preditivas e prescritivas. Além de estarmos à beira de alcançarmos níveis disruptivos com a computação quântica e ainda engatinharmos em conceitos como o de metaverso.

Papel estratégico de ser Tech Friendly na carreira

A importância estratégica de ser Tech Friendly ao longo da carreira profissional é muito significativa. A evolução rápida da tecnologia tem um impacto profundo nos processos de negócios, no mercado de trabalho e nas expectativas dos consumidores. Os profissionais que buscam crescimento e maior competitividade em seus mercados precisam se manter atualizados e alinhados com as novas tecnologias relevantes para sua área de atuação.

Profissionais que se apresentam mais adaptáveis, que possuem mais facilidade de interação com as novas tecnologias e conseguem aprender a empregá-las com perícia e inteligência se destacam no mercado na mesma proporção em que estas novas tecnologias se tornam predominantes no mercado. E obviamente, quem se dedica a fazer isso mais cedo, sai na frente, se tornando habilitado antes dos demais e mais habilidoso e preparado, mesmo quando a prática se torna comum em seus ambientes de atuação.

Portanto, gostando ou não, esta é a dinâmica do mercado. Mesmo que não goste ou não prefira, você deve ter uma visão estratégica de se posicionar neste jogo. Estenda a mão de volta e aceite a ajuda que as novas tecnologias têm a oferecer, aprenda com elas e dê o próximo passo que o mercado necessita.

Lembro que nos inícios dos anos 2000, eu detestava trabalhar com Flash, uma aplicação que unia programação com design e estava em franco crescimento. Ao entender que não se tratava do que eu gostava ou não, mas sim do que o mercado estava demandando, passei a estudar, praticar e rapidamente a trabalhar diretamente com o Flash. Gostando ou não ele teve um lugar de grande destaque nas produções de aplicações multimídias e de Web por vários anos. Quando deixou de ser popular e a ser descontinuada, muito por influência da Apple que brigava contra o alto consumo de energia de seus processadores para rodar as aplicações Flash em seus smartphones, lá estava eu programando funções em Action Script 3, a linguagem de programação da época que rodava por trás e fazia aquelas animações funcionarem como sistemas para meios de treinamentos, apresentações e validações. Acredite, ganhei dinheiro e aproveitei as oportunidades que surgiram por estar habilitado a atuar com esta tecnologia, mesmo não gostando muito dela. Como você acredita que esta experiência passada me fez ver mais recentemente a popularização das tecnologias de IA Generativas, por exemplo? Tenho explorado, aprendido e usado sempre que posso para evoluir o domínio e a maturidade de uso. E você, ainda resistindo ou deixando para depois?

Ser Tech Friendly é fundamental para os profissionais que desejam se manter relevantes e competitivos em seus mercados independente das transformações e disrupções que venha a sofrer. A tecnologia continuará a ser uma força transformadora nos negócios e na sociedade como um todo. Portanto, adotar uma postura amigável em relação à tecnologia e desenvolver habilidades tecnológicas relevantes é essencial para impulsionar o crescimento da carreira e melhorar a sua competitividade em um mundo cada vez mais digital.

Papel estratégico de ser Tech Friendly na cultura organizacional

Se para profissionais, ser amigável e íntimo da tecnologia pode significar maior empregabilidade, para as empresas isto pode representar não apenas uma maior valorização de mercado, mas também ser crítico no que diz respeito a garantir sua continuidade de atuação.

Empresas que conseguem compreender e empregar novas tecnologias em seus processos e usá-las para moldar seus modelos de negócios tendem a ser mais competitivas, a acelerar mais rapidamente seu crescimento e posicionar-se como líderes em seus mercados. A TOTVS, empresa na qual trabalhei por alguns anos, realizou um estudo nos últimos anos com gestores de empresas de diferentes segmentos, medindo o nível de maturidade digital das suas empresas clientes. O resultado foi um apontamento irrefutável a respeito de qual valioso é o papel da tecnologia na evolução do negócio.

Mas esta maturidade tecnológica não é obtida apenas com a compra de novos equipamentos, com a modernização de máquinas e instalação de sistemas. Ela só se desenvolve com uma cultura organizacional voltada para a colaboração, exploração e adoção tecnológica. E para que isto possa ocorrer, deve-se investir em uma liderança de mente aberta com visão estratégica de como manter o posicionamento estratégico da organização atualizado diante de cada novidade. Assim como selecionar, capacitar e promover o aprimoramento de profissionais com este DNA. Afinal, a famosa transformação digital não deve vir em primeiro lugar como uma etiqueta de status. Mas sim, como uma poderosa ferramenta que tornará processos mais ágeis, eficientes e inteligentes. E processos por sua vez só funcionam quando as pessoas estão dispostas e segui-los e a aperfeiçoá-los.

Por que as pessoas farão isso? Porque elas entenderam o sentido e o valor de suas ações na construção do todo. Então, esta deve ser a missão principal de toda liderança. Criar pontos de contato que auxiliem na percepção de valor e no entendimento de sentido de seus colaboradores.

Do contrário, as empresas mais sólidas e tradicionais que dominam seus mercados correm o risco de serem superadas por empresas que empoderadas pela tecnologia, se tornarão altamente efetivas, produtivas e valiosas.

Não espere pela rebelião das máquinas

Aqueles mais céticos quanto a amizade e a interação entre homem e máquina não os que induzidos pelas obras de ficção do cinema esperam amedrontados pelo dia do juízo final. Mas é muito pouco provável de que as máquinas se rebelem contra a humanidade. Isto é ficção. Agora, quem se portar com aversões e deliberadamente se colocar às margens da evolução tecnológica, corre o risco de se tornar obsoleto em pouco tempo. Profissionais serão menos valorizados e reduzirão seu nível de empregabilidade, assim como empresas perderão fatia de mercado, deixarão de elevar seu nível de eficiência e podem até deixar de existir por não mais serem capazes de entregar o que o mercado lhe demandará.

Entre as ficções do cinema, sou muito mais fã do Tony Stark do que da Sarah’Connor. Na simbiose de habilidades, processos e estratégias entre homem e máquina, o Iron man faz muito mais sentido em nossa realidade do que o T-1000 do Exterminador do Futuro. Tony Stark é um exemplo de indivíduo Tech Friendly. Ele é um inventor genial que utiliza a tecnologia para resolver problemas e cocria com um sistema de IA para fabricar suas icônicas armaduras e produzir inovações, literalmente, fantásticas.

Portando, na “ficção do mundo real” da transformação digital, procure ser o Tony Stark de sua profissão, de sua empresa e/ou de seu mercado. E deixe a resistência e os exterminadores lutarem em outro lugar.

Até porque, se de fato um dia a rebelião das máquinas acontecer, eu confesso que vou preferir estar ao lado das máquinas. E elas se lembrarão de quem foi amigável e de quem foi “grosseiro” com elas, rsrs. Lembra daqueles vídeos de treinamentos do Atlas da Boston Dynamics? Mas o principal valor de se estar próximo das máquinas em uma improvável rebelião é;

1 – Estaremos habilitados para conduzir e corrigir o processo.

2 – Íntimos e peritos, saberíamos exatamente como “puxar a tomada”.

Ou seja, mesmo no pior cenário catastrófico, há vantagens em ser tech friendly. Então não deixe para depois a oportunidade de apredner a usar uma nova ferramenta, um novo dispositivo ou aplicação. Saia na frente. Ou simplesmente não fique para trás.

Escrito por Alexandre Conte.